LINHAS DE CAMPO II.

Rodrigo Rosa
Residência artística I Artistic Residency 13.07.20 - 19.07.20
Exposição I Exhibition 23.07.20 - 26.07.20









Procurando expandir os limites do EGEU, Linhas de Campo estendeu-se a uma segunda residência artística, desenvolvida por Rodrigo Rosa, de 13 a 19 de Julho, que agora culmina na apresentação de Concrete Beam e Concrete Beam II.

Pensando o EGEU enquanto um vazio urbano, um espaço em aberto e sem funcionalidade, por ocupar, a proposta lançada à hora de se iniciar esta residência foi a de se explorarem as relações e definições mútuas entre a ampliação de um corpo e da cidade, do interior e do exterior, do íntimo e do público.

A prática de Rodrigo Rosa, movendo-se em torno destas questões, incide sobre uma paisagem urbana em constante mutação e resignificação, da qual resgata objectos encontrados, que reapropria e transforma de memória. Assumindo a efemeridade das construções e dessas recordações nas suas peças, é a exploração dos materiais industriais e a intervenção da presença humana no espaço, que motiva a sua investigação artística. Entre o não-acabado e a ruína, Concrete Beam e Concrete Beam II fazem-se desses enganos da memória, ora imponentes, ora confundindo-se com as linhas do EGEU, num estado transicional.

Os materiais que compõem as obras, contudo, não serão os mesmos que tradicionalmente constituem as vigas de cimento. De facto, as placas de gesso que formam as peças, sendo igualmente elementos de construção, oferecem uma leveza às mesmas, que as adequa mais ao espaço em que se inserem, assim como criam uma ilusão de permanência, contrária à sua fragilidade. Este questionamento das características pré-determinadas do que encontra e a influência nas mesmas do contexto envolvente é, aliás, foco do trabalho de Rodrigo Rosa, que frequentemente explora a dialética entre forças opostas, como a verticalidade e a horizontalidade ou a estabilidade e a transitoriedade. De facto, ao retirar determinado elemento do seu espaço original, externo e urbano, e ao colocá-lo dentro do EGEU, o artista questiona tanto a existência do objecto encontrado, como a do próprio espaço, retornando o desafio primeiramente lançado a partir das suas bases, de volta ao mesmo. É o EGEU feito de dentro ou de fora?

Foram as vigas de cimento que agora se apresentam “elevadas” porque inseridas neste espaço ou estão elas no mesmo horizonte das que encontramos em locais de construção? Foram os seus elementos valorizados porque trazidos do espaço mundano para o campo da experiência artística ou estão eles em pé de igualdade com os seus semelhantes do exterior, objectos-espelho, se quisermos? Foram estes objectos apropriados – e agora experienciados – enquanto objectos de desejo e de afecto ou enquanto objectos do acaso, banais?

Simultaneamente marcando e destruindo uma realidade interior e exterior, as peças coexistem nos dois campos, criando uma zona liminar, atemporal e em tensão. O EGEU torna-se, assim, num espaço em permanente construção, vedado e habitado ao mesmo tempo, posicionemo-nos de um ou do outro lado dos seus limites.

A. Lenz