SOBRE O FRUTO DA MÁQUINA

Sebastião Soares | Ana Malta | Diogo Gama | Romano Saraiva
22.12.19










No dia de hoje, é apresentada uma exposição coletiva que retrata uma nova geração de jovens artistas que trabalham diferentes linguagens e diferentes media, resultando por isso num grupo assumidamente heterogéneo. Trata-se de um leque de propostas vão desde a pintura à instalação e ainda performance, em que uma certa ideia de «figuração lúdica» parece percorrer transversalmente este coletivo, lembra Johan Huizinga e a sua teorização sobre o homo ludens.

Neste sentido podemos assistir a uma certa ideia de construção de objetos e de imagens que passam pelo rabiscar, sobrepor, colar, rasgar, etc., bem como a gestão quase intuitiva do espaço no plano pictórico e tridimensional nas diferentes obras, que são ações frequentemente associadas ao jogo ou à qualidade daquilo que é lúdico.

Há a dança que procura o corpo e experimenta-o. Uma dança que quer agredir, não o outro, não o corpo, mas o espaço. Quer ferir docilmente o espaço para o abrir e habitar, para sobreviver à solidão. Nesse espaço há as imagens fantásticas que nos espreitam inquietando-nos ao mesmo tempo que lhes sorrimos sorrateiramente. Não vemos um início ou um fim certos, da mesma maneira que a imaginação não começa nem acaba: é uma linha contínua. E nisto, há o jogo indistinguível se os planos do chão e a parede são espaço real ou virtual. A geometria parece desconstruir os nossos sentidos porque há rebatimentos e interseções de um espaço material reconhecível, e ao mesmo tempo ficcional e utópico feito de recortes de uma realidade que se sobrepõem, formando camadas, como se se tratasse de uma montagem, ou estivéssemos dentro de uma narrativa.

Ana Flor Galvão