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A BODY BIGGER THAN A MAP

Inês Brites | Carolina Lino | Seungjun Lee | Laia Giol Carreño | Jia Tang | Luísa Telles
27.04.20 - 17.05.20

Exposição: ︎


    








PT / EN

Poder-se-ia pensar o confinamento como um olho? Digamos que apenas por uma questão de indício, como a continuação do peão que dobra a esquina. Onde é que as cidades continuam? Se a alteridade existe para lá de um limite que só se pode desejar, o mesmo acontece com o volume da visão inacabada: espalha-se ao redor das coisas num ritmo, numa organização, dispõe o olhar e o corpo num horizonte onde só o corpo que lhes é próprio é possível. Ouvindo-se aqui os traços de outro lugar.

É apenas uma possibilidade. Mas porque não pensar a cidade como um indício? Digamos que de noite, vistas de cima. Extensas figuras geométricas, tamanho incerto, apenas forma, segmentos de recta numa tela negra. Ou de dia, dentro. Fachadas altas a cortar o céu, seladas em cada janela, apenas anunciando os pátios nas traseiras. E também no lixo, na expectativa, na imagem. Em todo o caso muitas mãos. Contudo, silhueta. Espelho, repetição, fotografia, mas silhueta. Sempre silhueta. Assim, a cidade tem um dorso, uma fronte, uma nuca. E deseja-se, sim, em mil vozes repetidas, sempre novas. Mesmo que possa nunca existir. Que possa nunca ter existido.

A exposição virtual do EGEU propõe-se a apresentar três séries de artistas, em cada uma a extensão de um corpo maior do que o mapa, enquanto espaço imaginado ou imaginação do espaço: Inês Brites - Carolina Lino (porque não podem as pedras, todas juntas, fechar as linhas do desenho de uma árvore?); Jun - Laia Giol (porque não podem as paredes ser uma outra respiração?); Jia Tang - Luísa Telles (porque não pode a cor ser o relevo de outra pedra?). E ainda assim o mesmo lugar.

Na extensão há sempre futuro. E o futuro é também um desejo, como o desejo é um olhar. De modo que nada nos obriga a pensá-lo como história de uma outra hora, como se separado de um passado indocumentável. Na medida em que o passado é também um desejo, é também um sentimento de futuro. Podem ser ambos (e simultaneamente) pálpebras do mesmo rosto indecifrável. Não há dicotomia, não há que escolher entre um corpo enquanto imagem de um grande futuro de lado nenhum ou outro corpo. Basta pensar o seu corpo como olhar. Nem o corpo do desejo, nem o desejo do corpo são mentira: a mentira é sempre do corpo que é verdade.

A. Lenz